Zema volta ao STF contra autonomia da Assembleia para impor votação Zema volta ao STF contra autonomia da Assembleia para impor votação

Zema volta ao STF contra autonomia da Assembleia para impor votação

  • por | publicado: 02/02/2022 - 07:06 | atualizado: 01/04/2022 - 19:51

Agostinho Patrus (PV) reafirma a independência do Legislativo perante o Executivo, foto Guilherme Bergamini/ALMG

Horas depois de pedir apoio na votação de seu projeto de recuperação fiscal, o governador Zema acionou, nesta terça (1º), o Supremo Tribunal Federal contra a autonomia da Assembleia. A estratégia estava desenhada um dia antes. Seu secretário, Mateus Simões (Secretaria Geral), havia cobrado, na segunda (31) responsabilidade do presidente da Assembleia, Agostinho Patrus (PV). Somada à ausência de Zema na reabertura do ano legislativo e ao recurso ao STF, os três atos esvaziaram a mensagem do governador e a atuação do secretário Igor Eto na sessão.

Não será a primeira vez que Zema atenta contra a independência do Legislativo estadual. A começar pela adoção do regime de urgência para votar seu projeto de adesão ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). Pela Constituição, a urgência impõe que a Assembleia deixe de ter autonomia para definir sua pauta de votações. Ou seja, quaisquer outros projetos só podem ser votados depois que o do governador for.

Dupla derrota no Judiciário

Em dezembro passado, após ser derrotado em plenário na votação que congelou o reajuste do IPVA, Zema recorreu ao Tribunal de Justiça e ao STF, onde saiu derrotado em ambas as instâncias. À época, o presidente da Suprema Corte, ministro Luiz Fux, negou o pedido e disse que se tratava de uma matéria interna da Assembleia e que não poderia haver interferência. Posição semelhante havia manifestado o presidente do Tribunal de Minas, desembargador Gilson Soares Lemes.

Não foi suficiente para o governador que, na nova ação, rebateu o entendimento, afirmando que não se trata de impugnação à norma interna corporis do Parlamento Mineiro. “…, mas da defesa de uma prerrogativa constante de norma objetiva da Constituição Federal…”

O governador se guia também pelo receio da cassação, em abril deste ano, de liminar do STF que garante a suspensão do pagamento imediato do serviço da dívida de três anos. “Se as liminares não se mantiverem, o estado terá de pagar imediatamente os valores já vencidos, acrescidos de correção monetária e incidência de encargos por inadimplemento, alcançando o montante de R$ 34 bilhões”, afirmou em sua mensagem à Assembleia. Em contrapartida, o RRF impõe venda de estatais, congelamento de reajuste salarial para os servidores e de progressão nas carreiras, além da perda da autonomia administrativa do Estado.

Secretário de Governo, Igor Eto, tenta mais um vez representar o Executivo no Legislativo

Agostinho defende independência

Apesar dos casos e atos pensados, Zema se precipitou após ouvir o posicionamento do presidente da Assembleia, reafirmando exatamente a independência do Legislativo. “Independência e união são as inspirações para a sessão legislativa que se inicia”, declarou Agostinho Patrus. Ele referia-se a dois acontecimentos históricos deste ano, para pontuar a defesa da democracia e da autonomia do Poder Legislativo. São as celebrações, em 2022, dos 200 anos da proclamação da Independência do Brasil e dos 100 anos da realização da Semana da Arte Moderna.

Agostinho anunciou ainda que, neste ano, uma das metas será o aprofundamento das ações de fiscalização, com o lançamento do projeto Fiscaliza Mais. Será um novo modelo de monitoramento intensivo das políticas públicas estaduais pelas comissões, com foco em indicadores.

A opção de Zema em buscar o Judiciário foi criticada pela presidente da Associação dos Funcionários Fiscais de Minas (Affemg), Sara Félix. “A medida não busca atender ao interesse dos mineiros, mas forçar o Legislativo mineiro a abrir mão de seu poder de decisão e abrir mão da autonomia do Estado”, criticou ela.

LEIA MAIS: Secretário envenena mais a relação de Zema com Assembleia

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal UAI.

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