Policia Federal foi pivô da saída, na sexta (24/04), de Sérgio Moro do ministério da Justiça e Segurança Pública. Pela manhã, por 40 minutos, ainda ministro, Moro, e, à tarde, o presidente Jair Bolsonaro, postularam o dia mais longo deste Governo. Diante da gravidade exposta à sua imagem, o presidente, às 17h, quis, portanto, demonstrar união e coesão dos ministros em torno dele. Todavia, as caras não convenciam. Foi uma cena patética.
Feito o noves fora, é de se duvidar que, sem uma convocação (ou intimação dos generais que lhe restam), os ministros estivessem de forma voluntária. E, muitos, não pareciam confortáveis atrás de Bolsonaro. Para alguns, poderá ter sido, até mesmo, a última foto ministerial.
O bureau palaciano de Bolsonaro julgou suficiente o intervalo de cinco horas para produzir o script (“restabelecer verdades”) de resposta ao já ex-ministro.
Deve ter avaliado, de mesma forma, que três horas, após, seriam suficientes para um complemento do Jornal Nacional (JN – principal telejornal brasileiro, da TV Globo). Isto é, selecionar o ‘melhor’ de sua fala, colher repercussão favorável e editar o principal fato. O Planalto, portanto, apostou em excelente edição. Mídia espontânea favorável.
Isso seria, então, bem mais rentável (menos antipático) que uma rede nacional de rádio e TV, às 20h30. Pois, uma cadeia tem custo das panelas nas varandas.
Neutralizado nas redes sociais
E, o JN foi, sim, editar trechos as falas. Contudo, também repercutiu: ouviu lados, laterais e fundos envolvidos e opiniões fora dos círculos dos protagonistas.
Mas, também, agiu rápido em cima dos novos materiais que o Planalto, em transe, produzia desajuizado.
Portanto, o tiro não seguiu apenas na direção mirada pelo capitão. E desejada. O ex-ministro, como convém aos juízes (cumpriu 22 anos de magistratura, como juiz federal), foi cauteloso. Tinha “provas”.
Desfeito o palanque dos ministros, os ventos, todavia, não sopraram na medida da encomendada. Os remendos, saídos do terceiro andar do Planalto, pioraram o soneto. Viraram tormenta(o)s para Bolsonaro em todos os veículos. Mais rapidamente nas redes sociais.
Polícia Fedral para servir ao clã
As evidencias colhidas, na noite de ontem e neste sábado (25/04), indicam que Bolsonaro pressionou, sim, para ter a Polícia Federal, a coisa publica, em favor da família. No caso dele, fora do cargo de presidente.
Quis de Moro um ‘puxadinho’ da PF, para chamar de seu. E que assumisse, praticamente, papel de milícia de Estado, sob os desmandos de Carlos, Eduardo e Flávio.
Poucas dúvidas restaram quanto à pretensão do presidente de ter uma PF, preferencialmente, produzindo diários para o clã.
Com as informações em sucessão, a bala de prata de Bolsonaro falhou na espoleta. Acusou o ex-ministro de propor um escambo pessoal: entregava a cabeça do seu diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Mas, somente após a sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em outra parte, Bolsonaro negou que houvesse reclamado de falta de expediente da PF em questões políticas a seu favor.
Mensagens e publicações desastrosas
Mas, a fortaleza do capitão parece cair. Tanto na acusação da negociata (STF) quanto na negativa de uma PF defendendo “bolsonaristas” (política pessoal).
O presidente, talvez, não imaginava um Moro bem mais cauteloso. Pois, mensagens entregues por ele foram ocupar noticiários e a opinião pública nas redes sociais.
Ao estilo de quem sempre conviveu com o poder, a TV Globo levou ao ar, por duas vezes, seguinte o seguinte texto de abertura de matérias: “O JN cobrou (de Moro) que apresentasse provas…”. Em dois casos, o ex-juiz não falou nem mandou nota. Mas remeteu diálogos trocados no celular. Um deles, com a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).
Na conversa, a parlamentar se voluntaria para interceder com Bolsonaro na indicação do ministro para o STF. Em troca, implora que Moro atenda ao presidente na indicação que tem para novo diretor-geral da PF. A escolha, portanto, recai sobre o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Também delegado da PF.
Ramagem é o preferido do chefe do Planalto por ser amigo de Carlos, Eduardo e Flávio. De toda a família.
No outro diálogo, Bolsonaro pressiona Moro, para que a PF seja presente em missões específicas. Mas, todas em causas pessoais (do político). Isso foi quinta-feira, véspera do dia em que o núcleo da poder pediu ao sol que tivesse, ao menos, uma hora a mais. Ou, que voltasse o tempo. Apagasse tudo.
Não fosse o bastante, o Planalto pôs mais fermento no imbróglio do Diário Oficial da União (DOU), órgão oficial da República. Primeiro, publicou assinatura eletrônica de Moro, abaixo do presidente, em ato de exoneração de Valeixo. O ex-ministro não assinara. Falsidade ideológica.
DOU como ‘pedaladas’ de Dilma
Diante de enorme barulho negativo, o Planalto fez nova publicação no DOU. Desta vez, porém, sem assinaturas Bolsonaro e, claro, de Moro. Os generais assumiram o texto.
Advogados e entidades caíram de pau. Rendeu, assim, mais alguns minutos de JN.
Mas, esta imprudência no DOU poderá ser para Bolsonaro o que foram as “pedaladas orçamentárias” no processo do impechment da ex-presidente Dilma Rousseff (2016).
Carlos relacionado às fake news
24 horas depois da cantata desafinada de Bolsonaro, o solo ainda continua pantanoso nos limites do Planalto. Pois, ao contrário do desejado pelo presidente, a PF aponta Carlos como articulador das fake news.
Na quinta (23/04), o portal da IstoÉ havia noticiado isso. Ontem, também por conta disso, veio a ira final de Bolsonaro contra Moro. Hoje, a polícia liberou mais informações.
Assim, pelo visto, pouca diferença fará o presidente lembar que é o “chefe supremo” da corporação.
O conjunto das evidenciais, que emergiram, em provocações do próprio presidente, compõem um cardápio indigesto, que oferece só de angu-de-caroço. Está na mesa de Jair, Flávio, Carlos e Eduardo. Visível aos quatro, a recomendação do chef: mesmo cuidado de quem, pela primeira vez, come arroz com pequi.
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